27 dezembro, 2014

Neuralgia do Trigémio- Caso clínico







Caso clínico:

Paciente sexo feminino, diagnóstico de NT, alterações de sensibildade na região perorbital esquerda, nariz e fossa nasal esquerda, 1/2 lábio superior e inferior esquerda. Dor região supra, infra e intra-orbital esquerda. Medicada com Lyrica 75mg. Agravamento dos sintomas desde cirurgia ao cristalino e córnea (esquerda).




Raciocínio

1. Como apresenta sintomas dos 3 ramos sensitivos principais, a região esfeno-temporal (gânglio de Gasser) merece uma atenção especial. É aqui que se juntam os 3 ramos sensitivos principais, envolvidos pela tenda do trigémio. Esta 'tenda' (tecido membranoso da dura-mater) é a continuidade da tenda do cerebelo e por isso as suturas occipito-temporal, esfeno-temporal, são de especial relevância terapêutica nas técnicas cranianas aplicadas. Se a dura -mater perder elasticidade, vai criar uma interface menos flexível para o deslizamento infra-dural do tecido nervoso ou mesmo para os ramos que a trespassam (na sua própria inervação). Alterações no deslizamento do tecido nervoso, criam alterações ao nível celular e na conductibilidade neural, ou seja, provocam sintomas neurogénicos. 

2. Ramos do nervo frontal dão inervação à córnea e conjuntiva. Se já haviam disfunções no deslize de tecido nervoso no gânglio de gasser, a cirurgia ocular pode ter interferido ainda mais na capacidade do nervo oftálmico se deslizar ou mesmo ter criado um cenário de inflamação neurogénica. Ao nervo frontal juntam-se ramos do nervo de Arnold e grande occipital (C2). Há tb anastomoses com os nervos dos músculos extra-oculares. Técnicas de: abertura da fissura orbital superior e foramen jugular; de mobilização neural dos nervos palpebrais, supratroclear, infra-orbital; mobilização de C2 (núcleo espinal e occipital maior); neurodinâmica da ATM; e moblidade activa e inibição de (alguns) músculos extra-oculares foram aplicadas sem aumentar os sintomas.

Na 2ª consulta os sintomas de parestesia e dor eram ausentes (ligeiros na região supra-orbital e nasal). 

Conclusão: o tecido nervoso é como um rio e encontra caminhos para poder desaguar...a presença de um obstáculo interfere com o seu percurso natural. Cabe ao Osteopata saber de Geografia, Engenharia, Mecânica e sobretudo saber sentir!


Pode ler mais sobre a NT aqui http://osteopatia-aartedotoque.blogspot.pt/2008/11/neuralgia-do-trigmio.html e aqui http://osteopatia-aartedotoque.blogspot.pt/2008/11/tratamento-na-neuralgia-do-trigmio.html

21 dezembro, 2014

"Hérnias Discais"



50% a 60% das pessoas têm procidências discais e hérnias discais extrusas. Uma % maior ainda, tem prolapsos discais. Esta animação está muito bem feita mas continua-se a bater na mesma tecla - a compressão do material herniado sobre a raíz nervosa é a causa do sintoma de dor (a 'dor ciática' é o sintoma mais comum) - Interessante é o facto de que quando a ciência inventou as TAC e RM, percebeu-se que metade daqueles pacientes com hérnias de compressão sobre a raíz nervosa não tinham quaisquer sintomas. Não é a compressão mecânica que desecadeia sintoma de dor (ou mesmo outras alterações leves de sensibilidade), mas sim as substâncias inflamatórias, como os radicais livres, que irritam o nervum nervorum no epineuro (parte mais superficial do nervo). Isto é, a inflamação provocada por uma hérnia (entenda-se por hérnia tudo o que sai do seu espaço anatómico) é a origem da dor neuropática e não a compressão mecânica sobre determinado tecido nervoso, aliás, a maioria das hérnias comprime a raíz no seu trajecto e não na sua emergência foraminal onde é mais vulnerável. É isto que faz com que o exame neurológico seja uma ciência e mobilizar o sistema nervoso (e aparelho neuro-musculoesqulético) uma arte. A Osteopatia pode ajudar muito numa mais rápida absorção das substâncias inflamatórias e actuar tanto na prevenção como na causa do que é a complexidade das 'hérnias discais'. Os sintomas, em regra, resolvem-se até 4 meses após o seu início e actualmente só uma % muito pequena de pacientes (+- 5%) é e deve ser submetido a cirurgia. A respeito do tratamento, para além do convencional (pode ver mais aqui http://osteopatia-aartedotoque.blogspot.pt/2011/05/hernia-e-prolapso-discal-tratamento-de.html), podemos ir mais a fundo e mobilizar o próprio tecido nervoso o que tem uma série de vantagens e efeitos fisiológicos. Este é um estudo comparativo em intervenções  com e sem mobilização do grande nervo ciático em pacientes com ciatalgia.

Efficacy of Neural Mobilisation in Sciatica
Sarkari1, E. and Multani2, N.K.

Abstract
The study was conducted on 30 patients, between age group of 40-65 years who were diagnosed cases of radiating low back pain. Subjects were randomly allocated to either group A or B. The patients of group A (n = 15) were treated with neural mobilization along with conventional treatment whereas group B (n = 15) was administered only conventional treatment. ROM and pain were assessed using goniometer and Visual Analog Scale (VAS). Neural mobilization along with conventional treatment was found to be more effective in relieving low back pain (t = 7.643) as well as improving the range of SLR (t = 5.848) than conventional treatment alone.

10 dezembro, 2014

Mobilização neural promove a regeneração de tecido nervoso- estudo

Neural mobilization promotes nerve regeneration by nerve growth factor and myelin protein zero increased after sciatic nerve injury.


Author information

Abstract

Neurotrophins are crucial in relation to axonal regrowth and remyelination following injury; and neural mobilization (NM) is a noninvasive therapy that clinically is effective in neuropathic pain treatment, but its mechanisms remains unclear. We examined the effects of NM on the regeneration of sciatic nerve after chronic constriction injury (CCI) in rats. The CCI was performed on adult male rats, submitted to 10 sessions of NM, starting 14 days after CCI. Then, the nerves were analyzed using transmission electron microscopy and western blot for neural growth factor (NGF) and myelin protein zero (MPZ). We observed an increase of NGF and MPZ after CCI and NM. Electron microscopy revealed that CCI-NM samples had high numbers of axons possessing myelin sheaths of normal thickness and less inter-axonal fibrosis than the CCI. These data suggest that NM is effective in facilitating nerve regeneration and NGF and MPZ are involved in this effect.


Opinião: É um estudo feito no nervo ciático de ratos (com uma lesão por compressão) cujo tratamento foram 10 sessões de mobilização neural (MN). A mobilização neural é uma técnica e um raciocínio que promove a mecânica dos nervos (neuromecânica) e entende a inter-relação anatómica dos nervos com as estruturas de inter-face (dito de forma simples). É sem dúvida uma das minhas abordagens de eleição, mas no entanto, os mecanismos fisiológicos da mobilização ainda não são totalmente compreendidos. Para este estudo (se bem que é apenas um sumário) seria interessante ter mais dados e perceber se o factor de crescimento neural (NGF) e a proteína de mielina são produzidas a um maior ritmo (normalmente em caso de lesão crescem 1 mm a 5 mm/ dia) com a MN. Estas proteínas são essenciais para o crescimento e protecção dos neurónios. Não deixa de se ser interessante também a diminuição de fibrose inter-axonal, mas novamente saber se as microglia funcionam mais rapidamente com a MN tornaria o estudo ainda mais completo. É importante para os Osteopatas terem estes factores em conta uma vez que atendem com frequência pacientes com neuropraxias e axonotmeses (lesões nos neurónios que compõem o nervo). Entender os mecanismos de lesão/ regeneração neural e um bom exame neurológico são cruciais para um raciocínio terapêutico, possível encaminhamento e prognóstico adequado.