05 março, 2013

Hérnia e Prolapso Discal- Tratamento de Osteopatia.



Antes de descrever o que são as hérnias ou prolapsos do disco intervertebral (tecido cartilaginoso entre as vértebras) vou, em termos gerais, falar sobre o processo degenerativo do disco. O disco é composto por um núcleo pulposo e um anel fibroso que servem para absorver as pressões a que as articulações intervertebrais estão sujeitas. As fissuras e rupturas do disco podem ter início na adolescência e são mais comuns com o avançar da idade. O núcleo fica mais pequeno, menos volumoso, devido a alterações da matriz do colagénio, consequentemente, a altura do disco pode diminuir e os seus círculos externos deformarem-se, o que aumenta a probabilidade de mais fissuras e prolapsos/ hérnias, pela fragilização das paredes do anel. Qualquer fissura ou ruptura inicia um processo inflamatório, que por sua vez desencadeia a formação de tecido cicatricial e vascular, com formação de osteofitos nas margens do anel fibroso. Normalmente, a redução da altura do disco ocorre em regiões de grande stress mecânico, ie, em regiões da coluna vertebral com alguma instabilidade, regra geral, em segmentos vertebrais com processos degenerativos, ou seja, fibrose e osteofitose ("bicos de papagaio") das articulações e tecidos envolventes.

Consoante os autores encontra-se terminologia diferente no que diz respeito à nomenclatura usada para distinguir as patologias discais. Para o efeito deste texto vou usar uma terminologia que seja clara.

- O núcleo do disco pode dirigir-se para as margens do anel (quando há fissuras no anel interior). Se o anel se deformar externamente chama-se Prolapso discal (2).
- Se as margens do anel exterior romperem designa-se por Hérnia discal, se o material do núcleo se mantiver ligado ao material central restante designa-se por Extrusão (3) e por Sequestro se o material do núcleo se descolar do material central (4).


É muito importante referir que patologias discais existem em sujeitos assintomáticos e que uma patologia discal  mesmo diagnosticada por exame complementar, tem de ser enquadrada no quadro clínico, ie, nos sinais e sintomas do paciente, uma vez que as causas para as dores podem ser muitas e  simultâneas. Um processo degenerativo articular, pode simular um problema discal. Uma patologia discal pode dar dor local ou dor referida à nádega e coxa, sem comprimir uma raíz nervosa. Uma hérnia discal pode dar sintomas e sinais bilaterais dependendo do tamanho. As patologias em nervos periféricos podem ser semelhantes às de raízes nervosas, por isto, o Osteopata tem de conhecer muito bem a anatomia, de fazer um exame neurológico objectivo e compreender a complexidade das patologias do sistema nervoso periférico e músculo-esqulético.

Tipicamente as hérnias e prolapsos ocorrem entre os 30 e 50 anos e são menos frequentes com o aumento da idade, ao contrário, as degenerações do disco ocorrem em idades avançadas, afectando mais as articulações e tecidos moles.

É comum nas hérnias/ prolapsos, a dor ser maior de manhã e ao fim do dia, agravar ao sentar, dobrar o tronco, tossir/ espirrar e existir alívio em posições horizontais ou passados minutos depois de iniciar a marcha ou de sentar. O início normalmente é repentino e pode ser associado a um movimento de flexão e rotação do tronco ( quando o disco está mais vulnerável). Se ocorrer compressão de uma raíz nervosa, podem verificar-se os seguintes sinais e sintomas neurológicos: parestesias no território do nervo ( dormência e formigueiro), diminuição da força dos músculos inervados, dor na região sensitiva do nervo (normalmente à distância), diminuição do reflexo tendinoso, perda de massa muscular ( em casos prolongados).

O tratamento Osteopático é tão complexo quanto o diagnóstico. Reforço o facto de que um Osteopata com formação, sabe distinguir quais são as estruturas que causam dor, faz um rigoroso exame clínico e um diagnóstico diferencial. Consoante o seu raciocínio clínico assim se aplica o tratamento. Nunca esquecer que o Osteopata aborda o doente como um todo e que procura mais do que as regiões localizadas de dor. O pensamento Osteopático é sempre o de procurar a causa primeira de disfunção. Na generalidade, o Osteopata recorre a várias técnicas promovendo o aumento da função das estruturas lesadas e das estruturas que contribuem para o quadro doloroso, melhorando o fluxo de nutrientes, o vascular e o nervoso e estimulando o processo de regeneração e reequilíbrio. Algumas técnicas poderão ter contra-indicações absolutas ou relativas, consoante os autores, mas visam, no essencial, restaurar a mobilidade de pontos-chave, aliviar a pressão sobre a raiz, promover a drenagem de resíduos e diminuir o quadro sintomatológico. Em casos crónicos, ou mesmo sub-agudos, o Osteopata recomenda exercícios específicos, dá conselhos sobre postura e ergonomia. Em períodos agudos o tratamento pode ser complementado com analgésicos e anti-inflamatórios. Pese embora, os resultados positivos do tratamento Osteopático em patologias discais (algumas até com indicação cirúrgica), a verdade é que ninguém consegue garantir uma taxa de sucesso de 100%. O tratamento depende e varia do tipo de patologia, do tipo de actividade, da idade, entre outros factores. Em alguns casos a cirurgia e o tratamento farmacológico são os mais indicados.