24 novembro, 2008

Tratamento Osteopático e Convencional na Neuralgia do Trigémio


Tratamento Conservador

O tratamento conservador da Neuralgia do Trigémio tem uma abordagem muito clínica, no sentido em que o controle da dor, considerada insuportável, é feito de imediato com doses altas de anticonvulsivantes e antipilépticos, que são também eficazes nas dores neuropáticas. Para a Neuralgia do Trigémio pensa-se que o mais eficaz seja a Carbamazepina ("Tegretol" e "Carbamazepina"), que é também prescrito para a Epilepsia e doença Bi-Polar.

Na indicação cirúrgica, normalmente de último recurso, existem dois procedimentos que têm sido os mais bem sucedidos. São eles a eletrocoagulação percutânea diferencial do trigémio e a microdescompressão vascular do trigémio.

Tratamento Osteopático
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Existem estudos feitos pela comunidade científica da área da Osteopatia, Fisioterapia, entre outras, que defendem que as prováveis alterações anatómicas, neurofisiológicas e biomecânicas no crânio, possam causar o aparecimento deste tipo de neuralgia facial (Eduardo André Louzeiro Lama e Flávia Maria Lessa Mélo).

Sutherland, o "pai" da Osteopatia Craniana, ou outros como Upledger, defendem que existe pulsação craniana através do líquido céfalo-raquidiano e um movimento correspondente, inter-sutural acompanhado por um ritmo respiratório. Também os académicos que investigam estas áreas, subscrevem a ideia de que existe esta micromobilidade entre os ossos que compõem o crânio e que o fenómeno disfuncional pode aparecer como em qualquer outra parte do corpo, ou seja, se existirem alterações por fixações das suturas cranianas, torna-se possível a diminuição da circulação do líquido céfalo-raquidiano e consequentemente a diminuição da mobilidade dos
nervos cranianos, de que faz parte o V par craniano, ou seja, o Nervo Trigémio (Eduardo André Louzeiro Lama e Flávia Maria Lessa Mélo).
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Como a lesão é craniana e cada ramo do nervo trigémio tem um canal ósseo trajectório, o tratamento Osteopático envolve técnicas cranianas com o objectivo de libertar as estruturas comprometidas, avaliando da mobilidade craniana, velocidade de pulsação do líquido céfalo-raquidiano, grau de fixação das suturas, etc. Estas técnicas pretendem promover o aumento da mobilidade neural periférica do crânio, libertando as suturas esfeno-frontal, esfeno-basilar, temporo-esfonoidal e temporoccipital.

As técnicas cranianas que se podem utilizar são várias mas não interessa descrevê-las aqui. Prefiro descrever a minha experiência com um paciente, que é bem explícita do resultado desta terapêutica. Este ano chegou ao consultório um paciente, cujo o diagnóstico feito pelo Neurologista era o de Neuralgia do Trigémio. O paciente tinha tido já vários surtos, nos últimos 2 anos, mas o ano corrente havia sido o pior. Tinham sido quase 11 meses de dor permanente. O senhor, militar de profissão, mal conseguia falar ou comer, estava pálido e por várias vezes fez uma cara de sofrimento tal, que acabou por ser a esposa que completou o resto da sua história. Orgulho-me de dizer que ao fim de 4 tratamentos, o paciente deixou por completo a medicação, coisa que não tinha acontecido nesse ano, falava, ria, comia e inclusivamente disse que há quase 1 ano não se sentia assim. Mesmo entendendo que o tratamento que fiz pudesse ser paliativo e não tenha tratado a causa própriamente dita, causa essa que continuava por descobrir em concreto, consegui dar uma qualidade de vida ao paciente que já não tinha há quase um ano. Espero continuar em tratamento e quem sabe...talvez fique mesmo curado!

23 novembro, 2008

Neuralgia do Trigémio




A Neuralgia do Trigémio (NT) é a mais conhecida e debilitante forma de neuralgia facial (PETERSON, 1996). A patologia normalmente tem início na segunda metade da vida, embora o início tardio, após os 65 anos, seja relativamente frequente. Tem mais incidência no sexo feminino, numa proporção de 3/2.

ANDRADE (2001), descreve a manifestação da neuralgia como se fossem milhares de picadas, choques eléctricos ou um ferro quente na cara. Para se ter bem a dimensão da dor, um paciente meu descreveu-a como uma dentada de cão permanente. Alguns sites descrevem a dor da NT como das piores dores conhecidas pelo homem.
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É uma dor paroxística e de carácter repentino, que pode aparecer e desaparecer subitamente. Normalmente são de curta duração. Reaparece em intervalos variados mas cada surto pode ter a duração de dias ou semanas. Durante um surto de dor, o paciente traduz um sofrimento extremo, tendo grande dificuldade em falar ou comer. A dor é limitada á área do (s) trajecto (os) afectados.
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Os factores que podem desencadear uma crise, embora às vezes apareça de forma espontânea, são vários e muitas vezes basta a simples articulação de palavras, a mastigação, um contacto cutâneo ou mucoso ou um sopro de ar para originar uma descarga paroxística. Às regiões cutâneas ou mucosas onde se localiza dor, dá-se o nome de zona de gatilho, precisamente porque basta um leve contacto ou estímulo para desencadear um surto. Após a descarga, existe um período refractário durante o qual a estimulação da zona de gatilho é ineficaz, com uma duração que dependerá da intensidade do paroxismo doloroso que a precedeu (Kugelberg e Lindblom).
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O nervo trigémio (V par craniano) é um nervo misto, isto é, tem fibras sensitivas (gerais e especiais) e motoras (fibras motoras somáticas + arcos branquiais + fibras parassimpáticas), tendo as primeiras interesse no quadro nevrálgico, pois são responsáveis pela sensibilidade proprioceptiva e exteroceptiva (tacto, descriminação, vibração, pressão, dor e temperatura) da face, pescoço e parte do crânio. Os ramos eferentes somáticos dão enervação aos músculos responsáveis pela mastigação.  Ao gânglio de Gasser, chegam as fibras sensitivas a partir das três ramificações do nervo trigémio (ramo maxilar, ramo mandibular e ramo oftálmico) que possuem áreas específicas de inervação de cada lado da face. O ramo mandibular (1/3 anterior da língua, lábio inferior, ATM) é comumente o mais afectado na neuralgia do trigémio.
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Do que se conhece da fisiopatologia da NT, pensa-se que a condução nervosa sofre alterações ao nível da raiz sensitiva do trigémio, ocorrendo uma redução da velocidade de condução nas fibras rápidas, que exercem uma influência inibidora sobre os neurónios do núcleo bulbo-espinal do trigémio, que é responsável pela transmissão térmica e dolorosa da face. Ora, a perturbação da mensagem aferente pode traduzir-se num estado de hiperexcitabilidade neural, provocando uma descarga "eléctrica" espontânea ou influenciada por factores estimulatórios periféricos.
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Ainda assim, a etiologia da Neuralgia do Trigémio não está totalmente esclarecida (Junior et al, 1989), ou seja, não está definido um factor etiológico único responsável pelo aparecimento da patologia, pelo contrário têm sido destacadas várias causas, entre elas a compressão intracraniana do nervo trigémio por vasos periféricos, geralmente artérias (destaco a proximidade da carótida interna com o Gânglio de Gasser), infecções virais, lesões tumorais, esclerose múltipla, aneurismas e comprometimento alveolar pós-extracção dentária (LEPP et al.14, 1974; RATNER et al.25, 1979; ROBERTS et al.26, 1984; SHABER & KROL27, 1980).
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Por todas estas circunstâncias conclui-se, de que a NT pode manifestar-se mesmo sem um processo patológico individual, como um tumor ou aneurisma ou uma agressão mecânica directa. Uma hiperelevação do rochedo, associada ao envelhecimento, uma calcificação da dura-mater a nível do orifício de Meckel, o contacto com ramos de artérias ateromatosos ou mesmo com a carótida interna, na sua emergência do rochedo, são todos factores que podem actuar como desencadeantes da neuralgia do trigémio.
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São várias as alterações álgicas faciais que se podem confundir com a NT, é por isso necessário um bom diagnóstico diferencial. Dou alguns exemplos: Neuralgia facial atípica, Neuralgia facial associada à esclerose múltipla, Dor consequente de patologias odontológicas, Dor facial associada à atropatia temporomandibular, etc.
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Abordarei o Tratamento Osteopático noutro artigo.