- Por um lado, no percurso académico osteopático, a ponte entre a teoria das ciências biomédicas e a
sua aplicabilidade num raciocínio Osteopático + intervenção terapêutica multi-sistémica é fraca.
Pode aprender-se muito de fisiologia mas depois a intervenção manual de eleição para uma
“lombalgia“ é a manipulação de impulso de uma L-5, por exemplo.
- Por outro lado, estamos ainda
aquém de uma investigação em Osteopatia com os recursos humanos e financeiros ideais.
Contudo, estamos a caminhar para lá, a investigação está no seu pico, e ao mesmo tempo vamos
bebendo conhecimento de outras áreas que se cruzam com a nossa. Assim, vamos saindo
devagarinho de um modelo mais passivo e periférico para um mais funcional e central. Os avanços
que se tem feito em áreas como a neurofisiologia no estudo da dor crónica/ neuropática,
inflamação neurogénica, neuroplasticidade, psico- neuro- imunologia ou histologia, muito tem
ajudado neste nosso caminho em direção a um outro modelo, o biopsicosocial, todo ele mais
dinâmico.
- A 3ª razão, de natureza profissional, é óbvia. Sejamos honestos. Ao fim de alguns anos cansa ver
vários pacientes por dia, com queixas muito semelhantes e com toda a sua complexidade físico-
emocional. É mais fácil, após algum desgaste profissional, cair-se na tentação de mobilizar/
manipular a articulação sintomática ou estruturas regionais. E afinal, também os pacientes adoram
ouvir os “estalos que encaixam os ossos todinhos”...é o melhor de 2 mundos!
- A última razão é mais primitiva e apoia-se num estudo feito há uns anos, exactamente sobre o
efeito do som da cavitação articular da manipulação, não no paciente mas naquele que a aplicava.
Os resultados foram muito interessantes e relacionam-se com a estimulação de centros emocionais
(ínsula, amígdala, hipocampo) pós-manipulação, ie, centros relacionados com a satisfação, prazer,
com a memória (provavelmente passada por gerações genéticas do ADN tipo - “ir ao sítio”). Talvez
por isto um Osteopata possa ficar viciado num “cracking”.
Pese embora, estejamos a romper paradigmas e a empurrar fronteiras, ainda se ensinam ideias
como pernas curtas, tíbias anteriores, vértebras rodadas, lesão osteopática e aumentos de amplitude articular com manipulações. Ainda se dá pouco de anatomia, fisiologia, histologia,
biomecânica, e se integra pouco com a prática clínica e raíz Osteopática (aplicação do modelo
corpo-mente). Continuamos a tratar maioritariamente os pacientes de forma passiva, estática,
postural, física.